Wednesday, December 03, 2014

EUA/Portugal: Kissinger queria golpe de estado de direita em 1975




EUA/Portugal: Kissinger queria golpe de estado de direita em 1975

O ex-secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger não era assim “tão contra” um golpe de estado de direita em Portugal durante o processo revolucionário de 1975 e admitiu fornecer armas ao “grupo dos Nove”.
Estas são revelações feitas, 40 anos após o 25 de Abril de 1974, em documentos do Departamento de Estado até agora considerados “secretos” e publicados no volume do departamento histórico do Departamento de Estado sobre a política externa norte-americana, referente aos anos de 1969-1977 (Foreign Relations of the United States – Volume E-15, part II).
A reunião decorreu a 12 de agosto de 1975, entre Kissinger, o embaixador dos EUA em Lisboa, Frank Carlucci, e vários membros do Departamento de Estado, em Washington, incluindo William Hyland, diretor do Departamento de Informações e Pesquisa do Departamento de Estado.
Já passara mais de um ano sobre o golpe que derrubou a ditadura, a 25 de Abril, e o Governo de Lisboa era liderado por Vasco Gonçalves, o “inimigo número um” dos EUA. Carlucci e Hyland concluíram que o maior risco para os objetivos norte-americanos eram António de Spínola, o primeiro presidente pós-25 de Abril e que liderou o 11 de março, e a extrema-direita.
Nessa altura, Henry Kissinger, chefe da diplomacia dos presidentes Richard Nixon e Gerald Ford, disse algo que, admitiu, poderia chocar os seus “colegas”.
“Não sou assim tão contra um golpe desse tipo [de direita], por muito chocante que seja para os meus colegas…”, lê-se na ata da reunião de agosto de 1975, em que se discutiram as hipóteses de êxito de um golpe por parte da direita em Portugal.
Carlucci opôs-se, tal como já se opusera à tese da vacina: Kissinger aceitaria “perder” Portugal para os comunistas, apoiados pela União Soviética, e tal funcionaria como “vacina” para Espanha ou Itália. O diplomata defendeu, isso sim, o apoio dos EUA aos “moderados”, incluindo o PS de Mário Soares.
“Não, também não sou contra um golpe, se resultasse. Mas se Spínola o tentar, não vai resultar. [Melo] Antunes [do Grupo dos Nove] pode ser um líder no momento seguinte, Spínola não. Ele é, na minha opinião, um homem muito perigoso”, afirmou Carlucci.
Spínola, durante o seu exílio após a tentativa falhada de golpe do 11 de março de 1975, fundou o Movimento Democrático de Libertação de Portugal (MDLP), tentou apoios em França e no Brasil para um movimento militar e popular que derrubasse o Governo liderado por Vasco Gonçalves e apoiado pelo PCP.
Kissinger disse que, naquela altura, os EUA não tinham qualquer relação com Spínola. Carlucci duvidou, dado que lera um relatório da CIA sobre a América Latina e que indicava “algum tipo de contacto” com o general.
É também na reunião de 12 de agosto no Departamento de Estado, em Washington, que Kissinger e Carlucci falam abertamente de uma guerra civil em Portugal e da possibilidade de fornecer armas a personalidades relacionadas ou com Mário Soares ou do Grupo dos Nove.
Neste ambiente, político e militar, Carlucci recebeu luz verde para Washington examinar o pedido” de fornecimento de armas desde que fosse legítimo.
“E se, no seu julgamento, os pedidos forem feitos por elementos responsáveis”, explicou Henry Kissinger. E Carlucci revelou ter sido contacto por pessoas que não eram nem ligadas a Soares nem ao PS nem aos militares “moderados”.
Não há, nestes documentos desclassificados, elementos sobre se foram entregues armas pelos Estados Unidos e a quem.

(Texto publicado na Lusa, a 23 de agosto de 2014)

Saturday, November 29, 2014

EUA/Portgual: CIA abortou plano para apoiar Spínola no Verão Quente de 1975



EUA/Portugal: CIA abortou plano para apoiar Spínola no Verão Quente de 1975


Os Estados Unidos tiveram um plano para apoiar António de Spínola, do movimento anticomunista MDLP, durante o período revolucionário de 1975, mas foi “chumbado” pela CIA, que foi mantendo “algum tipo de contacto” com o general.
A revelação é feita em documentos do Departamento de Estado até agora considerados “secretos” e publicados no volume do departamento histórico do Departamento de Estado sobre a política externa norte-americana, referente aos anos de 1969-1977 (Foreign Relations of the United States – Volume E-15, part II).
O embaixador dos Estados Unidos em Lisboa, Frank Carlucci, era contra qualquer apoio norte-americano ao general do monóculo, que fugiu de Portugal após a tentativa falhada de golpe de Estado de 11 de março de 1975, e é isso mesmo que diz a Henry Kissinger numa reunião em Washington em 12 de agosto de 1975, no Departamento de Estado.
A secreta norte-americana não estaria, porém, inocente nos contactos com Spínola, dado que Carlucci recorda, nesse encontro, que viu um relatório da CIA que “indicava algum tipo de contacto”, o que o lhe causa “alguma preocupação”.
A avaliar pelos documentos agora divulgados pelo Departamento de Estado, passados os quase 40 anos de classificação, a proposta de apoio a Spínola circulou entre vários membros do Comité dos 40, um organismo chefiado por Kissinger para supervisionar operações clandestinas e que incluía os serviços secretos, a CIA, mas não avançou, de acordo com um documento secreto, datado de 30 de julho de 1975.
O documento teve a oposição do Departamento de Estado e da CIA, obtendo apenas o voto favorável do chefe de estado conjunto das forças armadas norte-americanas, general George Brown. Para o Departamento de Estado, Spínola “estava descreditado e [com ele] não há perspetivas de sucesso” para os objetivos dos EUA.
Durante o seu exílio após a tentativa falhada de golpe do 11 de março de 1975, António de Spínola fundou o Movimento Democrático de Libertação de Portugal (MDLP), tentou apoios em França e no Brasil para um movimento militar e popular para derrubar o Governo liderado por Vasco Gonçalves e apoiado pelo PCP. 

(Texto publicado na Lusa, a 23 de agosto de 2014)

Monday, November 17, 2014

EUA/Portugal: Norte-americanos aprovaram primeiro plano de operações clandestinas em 1974

EUA/Portugal: Norte-americanos aprovaram primeiro plano de operações clandestinas em 1974


O Departamento de Estado e os serviços secretos norte-americanos aprovaram o seu primeiro plano de operações clandestinas para Portugal a 27 de setembro de 1974, para “evitar a tomada do poder pelos comunistas”.
Esta é a primeira vez que, 40 anos depois da revolução portuguesa, o Departamento de Estado norte-americano revelou, ainda que parcialmente, documentos e parte dos debates “on the record” no Comité dos 40, organismo que supervisionava operações clandestinas e incluía os serviços secretos, a CIA.
Grande parte de nomes de personalidades políticas, partidos e organizações portuguesas envolvidas nas operações, que nunca são descritas ao pormenor, continuam a ser segredo por questões de segurança e foram apagados na versão agora “desclassificada”.
O lote de documentos é grande e foi publicado no volume do departamento histórico do Departamento de Estado sobre a política externa norte-americana, referente aos anos de 1969-1977 (Foreign Relations of the United States – Volume E-15, part II).
A primeira proposta de “operações políticas” do Comité dos 40 tem a data de 27 de setembro, um dia antes da frustrada manifestação da maioria silenciosa de 28 de setembro, inspirada por António de Spínola, primeiro presidente após o golpe do Movimento das Forças Armadas (MFA), e que antecipou a sua demissão, a 30 de setembro.
Esta proposta inicial incluía planos específicos, não revelados ainda hoje, para a campanha das primeiras eleições livres para a Assembleia Constituinte, mas também ações para influenciar os militares do MFA.
A demissão de Spínola, em que alertou para novas formas de totalitarismo, e o ascendente das forças de esquerda levou Kissinger a concluir que havia agora uma “coordenação estreita” entre o MFA e os comunistas.
Num memorando de outubro de 1974 destinado a Kissinger, fala-se em “fortalecer o PS” e em ajudar a “desenvolver um partido centrista que atuasse em coligação com os socialistas para derrotar o PCP”.
Mas é a 20 de janeiro de 1975 que a administração de Gerald Ford, numa reunião, decidiu avançar com um renovado plano de operações clandestinas para Portugal - “quer haja ou não fugas de informação”, nas palavras do presidente Gerald Ford.
Henry Kissinger chegou a defender que a CIA devia “infiltrar” o MFA e lembrou que ter defendido um “plano de ações clandestinas massivo” desde há meses.
Em março, um memorando de ações do Comité dos 40 foi chumbado pelo Departamento de Estado pelo risco de fugas de informação para os jornais.
Uma das ações passava por canalizar fundos para os partidos “não comunistas” portugueses por parte dos aliados europeus, incluindo verbas da CIA, mas também “expor as atividades subversivas” do PCP.
E é já depois das eleições para a Constituinte de 25 de abril de 1975, ganhas pelo PS e em que o PCP recolheu 12% dos votos, que o Comité dos 40 faz mais um documento a propor “proteger os ganhos dos moderados” nas eleições.

São recomendados mais apoios aos partidos, cooperação com “os europeus” para canalizar fundos para Portugal, influenciar o MFA a “tomar decisões democráticas”. A CIA sugeria que se organizasse uma “campanha mediática para mostrar a desaprovação internacional da eliminação dos processos democráticos”.

(Texto publicado na Lusa, a 23 de agosto de 2014)

Sunday, November 16, 2014

EUA/Portugal: Kissinger achava que comunistas iam matar Mário Soares em 1975

EUA/Portugal: Kissinger achava que comunistas iam matar Mário Soares em 1975

Henry Kissinger, ex-secretário de Estado norte-americano, previu e errou que “os comunistas” iam matar, em 1975, Mário Soares, líder histórico do PS e ministro dos Negócios Estrangeiros.
“Os comunistas vão arrastar Soares para a esquerda até ele perder apoio e depois vão matá-lo. As forças armadas vão fazer um golpe de estado sob liderança dos comunistas”, afirmou Kissinger numa reunião, a 04 de fevereiro de 1975, do Comité dos 40, organismo para supervisionar operações clandestinas e que incluía os serviços secretos, a CIA.
Henry Kissinger era um crítico de Mário Soares, considerando-o fraco e, em outubro de 1974, chegou a dizer-lhe que seria o “Kerensky português”, o dirigente socialista russo derrotado por Lenine na revolução russa de 1917.
Anos mais tarde, já depois do fim do período revolucionário, em finais de 1975, também numa reunião em Washington, admitiu o erro quanto a Mário Soares, que, na democracia portuguesa, foi primeiro-ministro de vários governos e Presidente da República (1986-1996).

Esta revelação é feita, 40 anos após o 25 de Abril de 1974, em documentos do Departamento de Estado até agora considerados “secretos” e publicados no volume do departamento histórico do Departamento de Estado sobre a política externa norte-americana, referente aos anos de 1969-1977 (Foreign Relations of the United States – Volume E-15, part II).

(Foto da Ford Library, com Costa Gomes e Geral Ford em primeiro plano, seguidos por Kissinger e Soares, em outubro de 1974)

(Texto publicado na Lusa, a 23 de agosto de 2014)

Thursday, May 30, 2013

E os americanos “vigiavam” Cunhal (reeditado)


São dezenas de telegramas: sempre que Cunhal dá uma entrevista, seja em França, Brasil, Checoslováquia, havia uma embaixada ou consulado norte-americano a fazer um telegrama.
Um mês antes do 11 de Março, tentativa “putchista” de Spínola e seus apoiantes, Cunhal alertava para os riscos de golpe num país em que “rumores de golpe” andavam de boca em boca, de manchete em manchete.
Veja-se este telegrama, do embaixador norte-americano em Lisboa Frank Carlucci, sobre uma entrevista do líder comunista à revista brasileiro “Veja”: Cunhal, segundo Carlucci, falava em risco de golpe da direita, e de guerra civil, para tentar “arrefecer” os rumores de que o PCP estaria a preparar a tomada do poder.
(Ler o telegrama na íntegra aqui)

CONFIDENTIAL
PAGE 01 LISBON 00880 141927Z
20
ACTION EUR-12
INFO OCT-01 AF-06 ARA-06 ISO-00 CIAE-00 DODE-00 PM-03 H-01
INR-07 L-02 NSAE-00 NSC-05 PA-01 PRS-01 SP-02 SS-15
USIA-06 ACDA-05 SAJ-01 /074 W
--------------------- 039717
R 141635Z FEB 75
FM AMEMBASSY LISBON
TO SECSTATE WASHDC 1755
INFO AMEMBASSY BONN
AMEMBASSY BRASILIA
AMEMBASSY LONDON
AMCONSUL LOURENCO MARQUES
AMCONSUL LUANDA
AMEMBASSY MADRID
AMEMBASSY PARIS
AMCONSUL RIO DE JANEIRO
USMISSION NATO
DIA WASHDC
USCINCEUR VAIHINGEN GER
AMCONSUL OPORTO
AMCONSUL PONTA DELGADA
C O N F I D E N T I A L LISBON 880
EO 11652: GDS
TAGS: PINT, PO
SUBJ: ALVARO CUNHAL ON "LOCKED GATE" AND POSSIBILITY OF CIVIL WAR
1. SECRETARY GENERAL OF PORTUGUESE COMMUNIST PARTY (PCP)
ALVARO CUNHAL GRANTED INTERVIEW TO BRAZILIAN MAGAZINE "VEJA"
IN WHICH HE STATED THAT THERE WAS NOTHING EXTRAORDINARY ABOUT
NATO "LOCKED GATE" EXERCISE SINCE PORTUGAL IS MEMBR OF NATO.
CUNHAL WENT ON TO STATE THAT TIMING OF EXERCISE POORLY CHOSEN,
BUT IT NOT NECESSARY TO "DRAMATIZE" THAT FACT.
2. REGARDING POSSIBILITY OF CIVIL WAR IN PORTUGAL, CUNHAL
STATED THAT CIVIL WAR NOT LIKELY, BUT THAT IT COULD ARISE IF
CONFIDENTIAL

CONFIDENTIAL
PAGE 02 LISBON 00880 141927Z
"COUNTE-REVOLUTIONARY FORCES" MADE ARMED COUP ATTEMPT.
3. COMMENT: IT APPARENT THAT CUNHAL IS MAKING ATTEMPT IN
"VEJA" INTERVIEW TO COOL ALARMIST RUMORS CONNECTED WITH RECENT
ISSUES SUCH AS "LOCKED GATE" AND DRAFT LABOR LAW, ESPECIALLY
REGARDING PCP ATTEMPTS TO TAKE OVER GOVT.
STATEMENTS MADE IN "VEJA" SIMILAR TO PREVIOUS STATEMENTS MADE
BY CUNHAL ON THESE TOPICS.
CARLUCCI
CONFIDENTIAL
NNNN

Cunhal nos arquivos norte-americanos (reeditado)


Este é um excerto de um telegrama enviado pelo Departamento de Estado (não citado no meu livro) em que o embaixador João Hall Themido, diploma português em Washington que resistiu ao 25 de Abril e ficou em funções, apesar da queda da ditadura. Ele foi uma “peça”, pela continuidade, na tentativa de acalmar o aliado americano face às mudanças de regime em Portugal. A 30 de Maio de 1974, Themido estivera em Lisboa e regressou a Washington com uma mensagem de amizade aos Estados Unidos, nessa altura ainda na fase de “wait and see”, mas já com os olhos postos em Álvaro Cunhal , líder do “único partido organizado”, como não se cansava de dizer Kissinger. Conciliador, João Hall Themido dizer que, até ao momento, fizera declarações muito “responsáveis”. Nos meses, anos seguintes o embaixador teve posições bem mais alarmadas sobre "os comunistas" em Portugal...
(Telegrama retirado dos National Archives)
Ver o telegrama na íntegra aqui


CONFIDENTIAL
PAGE 01 STATE 113385
63
ORIGIN EUR-25
INFO OCT-01 ISO-00 CIAE-00 DODE-00 PM-07 H-03 INR-10 L-03
NSAE-00 NSC-07 PA-04 RSC-01 PRS-01 SP-03 SS-20
USIA-15 IO-14 AF-10 SAM-01 EB-11 /136 R
DRAFTED BY EUR/IB:WPKELLY:MS
APPROVED BY EUR - WELLS STABLER
--------------------- 091061
P 301929Z MAY 74
FM SECSTATE WASHDC
TO AMEMBASSY LISBON PRIORITY
C O N F I D E N T I A L STATE 113385
E.O. 11652: GDS
TAGS: PFOR, PO, U-S.
SUBJECT: CONVERSATION WITH PORTUGUESE AMBASSADOR TO U.S.
1. AMBASSADOR THEMIDO (JUST RETURNED FROM CONSULTATION IN
LISBON) CALLED ON ACTING ASSISTANT SECRETARY STABLER LATE
AFTERNOON MAY 28 TO DELIVER LETTER FROM FOREIGN MINISTER
SOARES TO SECRETARY THANKING HIM FOR HIS MESSAGE AND TO
CONVEY--UNDER INSTRUCTIONS--SOARES' STRONGLY EXPRESSED
DESIRE FOR STRENGTHENED PORTUGUESE RELATIONS WITH U.S.
COPY OF LETTER BEING POUCHED FOR POST INFO. MAJOR
ELEMENTS OF CONVERSATION ARE SUMMARIZED BELOW.
(...)
5. STABLER ASKED HOW THE PROVISIONAL GOVERNMENT OPERATES
VIS-A-VIS THE JUNTA. THEMIDO REPLIED THAT THE PG
IMPLEMENTS THE PROGRAM DEFINED BY THE JUNTA AND THE ARMED
FORCES MOVEMENT BUT THAT THE JUNTA CONCERNS ITSELF
PRINCIPALLY WITH BROAD GUIDELINES FOR SOLVING THE MAJOR
ECONOMIC AND POLITICAL PROBLEMS OF THE COUNTRY, E.G.
LABOR DIFFICULTIES AND THE OVERSEAS TERRITORIES. THEMIDO
EXPLAINED WHY COMMUNISTS ARE INCLUDED IN THE PROVISIONAL
GOVERNMENT, VOLUNTEERED HIS PERSONAL OPINION THAT CUNHAL
HAS BEEN "RESPONSIBLE" THUS FAR IN THE STATEMENTS HE
HAS MADE, AND SAID THAT ELECTIONS WILL CLEARLY SHOW WHERE
PORTUGAL IS GOING POLITICALLY (WHICH THEMIDO SEEMED TO
THINK WAS TOWARD THE CENTER).

Duas semanas antes, a embaixada norte-americana em Lisboa apresentava, em cinco linhas, Cunhal, então nomeado ministro sem pasta no Governo Provisório, como um comunista, “duro” e “disciplinado”, actualmente líder do PCP, e que nos últimos 14 anos viveu em Praga.
Ver o telegrama na íntegra aqui


CONFIDENTIAL
PAGE 01 LISBON 01949 01 OF 02 161602Z
43
ACTION EUR-25
INFO OCT-01 AF-10 ARA-16 NEA-14 ISO-00 EURE-00 SSO-00
NSCE-00 USIE-00 INRE-00 CIAE-00 PM-07 H-03 INR-10
L-03 NSAE-00 NSC-07 PA-04 RSC-01 PRS-01 SP-03 SS-20
SAM-01 OMB-01 NIC-01 SAJ-01 SSC-01 DRC-01 /131 W
--------------------- 044774
O R 161500Z MAY 74
FM AMEMBASSY LISBON
TO SECSTATE WASHDC IMMEDIATE 9610
INFO Z/AMEMBASSY BRASILIA 152
AMEMBASSY CONAKRY
AMEMBASSY DAKAR
AMCONSUL LOURENCO MARQUES
AMCONSUL LUANDA
AMEMBASSY LUSAKA
AMEMBASSY MADRID
AMCONSUL OPORTO UNN
AMCONSUL PONTA DELGADA UNN
AMEMBASSY RABAT
AMEMBASSY PRETORIA
USCINCEUR
CINCLANT
DIA
COMUSFORAZ
USMISSION NATO
C O N F I D E N T I A L SECTION 1 OF 2 LISBON 1949
E.O. 11652: GDS
TAGS: PINT, PGOV, PO
SUBJ: PROVISIONAL GOVERNMENT NAMED

(…)
3. MINISTER WITHOUT PORTFOLIO ALVARO CUNHAL, 50, IS A TOUGH,
DISCIPLINED LIFE-LONG COMMUNIST PRESENTLY SERVING
AS PCP SECRETARY GENERAL. FOR PAST FOURTEEN YEARS
HE HAS LIVED IN PRAGUE. HE HAS SPENT TWELVE YEARS IN
PORTUGUESE PRISONS.

Monday, May 20, 2013

Cunhal


Em breve, Álvaro Cunhal nos arquivos norte-americanos.
(A foto é do Alfredo Cunha)

Saturday, May 11, 2013

Até os telefones dos americanos falharam...




http://www.tvi24.iol.pt/503/politica/25-abril-revolucao-golpe-eua-telefones-tvi24/1442997-4072.html

25 de Abril: o dia em que os telefones americanos falharam

Embaixada dos EUA não percebeu logo o que se estava a passar com o golpe, com o obstáculo adicional das comunicações para Washington não funcionarem

Por: tvi24 / AR    |   2013-04-25 08:00
A Embaixada dos EUA teve dificuldades em perceber o que se estava a passar com o golpe de 25 de abril de 1974 em Portugal e teve um obstáculo adicional: os telefones não funcionaram de Lisboa para Washington.

De acordo com a Lusa, das comunicações entre a representação diplomática norte-americana em Lisboa e o Departamento de Estado, depositadas nos Arquivos Nacionais dos Estados Unidos, percebe-se a cautela com que a diplomacia encarou o golpe de Estado do Movimento das Forças Armadas (MFA). Mas fica, também, um registo insólito: os telefones falharam no dia em que caiu a ditadura em Portugal, precisamente ao fim da tarde, à hora a que o chefe do Governo, Marcelo Caetano, se rendeu no Largo do Carmo, em Lisboa, entre as 18:00 e as 19:00.

Falhadas as ligações telefónicas, restavam o telégrafo e os telegramas. Desde Lisboa, os diplomatas enviaram pelo menos dois telegramas, pedindo que lhes telefonassem «imediatamente» desde Washington. E até davam os números da embaixada (555141 ou 555149).

Logo pela manhã, quando o desfecho do golpe era desconhecido, o registo dos diplomatas norte-americanos em Lisboa, mas também nos Açores, onde dos EUA têm uma base, nas Lajes, era cauteloso.

«Está tudo tranquilo», lia-se num telegrama do Consulado em Ponta Delgada enviado para Washington às primeiras horas do dia em que o Movimento das Forças Armadas derrubou a ditadura, e que está depositado nos Arquivos Nacionais .

De Lisboa, o primeiro telegrama, com o mesmo título, «Distúrbios em Portugal», surge pelas 09:50. A mensagem fazia uma mera descrição do que estava a passar-se: tanques nas ruas de Lisboa, sedes de ministérios cercadas pelos militares, o relato dos apelos à calma, feitos pelo MFA através da rádio.

De acordo com vários ensaios históricos, a diplomacia norte-americana desconhecia, em profundidade, as movimentações dos militares para derrubar o Governo de Caetano e pôr fim à guerra colonial em África, fazer eleições livres e democratizar o país.

Os analistas norte-americanos chegaram a atribuir o golpe de Estado a militares ligados ao general António de Spínola e não ao Movimento das Forças Armadas (MFA). Pelo que os primeiros telegramas são vagos quanto à autoria do golpe.

Às 14:37, a preocupação da representação diplomática era comunicar a Washington que não havia motivos para crer que o golpe iria colocar em perigo «vidas e propriedades» de norte-americanos em Portugal.

Ainda assim, a embaixada estava a aconselhar os turistas norte-americanos em Lisboa a permanecerem nos hotéis «até que a situação se clarifique».

No final do dia do golpe, e numa altura em que Caetano já se rendera ao MFA, o Departamento de Estado dos EUA enviou então às representações a primeira posição formal de Washington quanto ao golpe, instruindo os embaixadores sobre o que poderiam dizer.

E o que poderiam dizer era muito pouco: a embaixada em Lisboa estava a acompanhar a situação, os turistas norte-americanos foram aconselhados a não ir para as ruas e que a base das Lajes, nos Açores, não fora afetada.

Num mundo ainda dividido em dois blocos, Estados Unidos e União Soviética, e a viver uma Guerra Fria, a diplomacia norte-americana, apesar das dúvidas iniciais, apoiou depois ativamente o PS de Mário Soares e o grupo dos «moderados» dentro do MFA, contra a ala esquerdista e o PCP de Álvaro Cunhal.

O secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, chegou a dar Portugal como um caso perdido para os comunistas, em 1975. Mas depois Kissinger acabou por apoiar os «moderados» e contribuir ativamente para a queda do Governo de Vasco Gonçalves, apoiado pelo PCP.